UNIDADE
- 03
Variação
linguística
As variações
linguísticas são as mudanças que a língua apresenta dentro
do seu próprio sistema. Ocorrem variações na língua porque a língua é usada por
falantes inseridos numa sociedade complexa, formada por diferentes grupos
sociais, com diferentes hábitos linguísticos e diferentes graus de
escolarização.
O uso faz a regra e os
falantes usam a língua de modo a suprir suas necessidades comunicativas,
adaptando-a conforme suas intenções e necessidades. Assim, a língua portuguesa
encontra-se em constante alteração, evolução e atualização, não sendo um
sistema estático e fechado.
Tipos de
variação linguística
As variações
linguísticas ocorrem principalmente nos âmbitos geográficos, temporais e
sociais.
01- Variações
diatópicas
As variações
diatópicas, também chamadas de variações regionais ou geográficas,
são variações que ocorrem de acordo com o local onde vivem os falantes,
sofrendo sua influência. Este tipo de variação ocorre porque diferentes regiões
têm diferentes culturas, com diferentes hábitos, modos e tradições,
estabelecendo assim diferentes estruturas linguísticas.
Exemplos de variações
diatópicas
Diferentes palavras
para os mesmos conceitos:
- aipim, mandioca, macaxeira;
- abóbora, jerimum, moranga;
- sacolé, dindim, geladinho.
Diferentes
sotaques, dialetos e falares:
- dialeto caipira;
- dialeto gaúcho;
- dialeto baiano.
Reduções de
palavras ou perdas de fonemas:
- véio (velho);
- muié (mulher);
- cantá (cantar);
- enxovar (enxoval).
02- Variações
diacrônicas
As variações
diacrônicas, também chamadas de variações históricas, são variações
que ocorrem de acordo com as diferentes épocas vividas pelos falantes, sendo
possível distinguir o português arcaico do português moderno, bem como diversas
palavras que ficam em desuso.
Exemplos de variações
diacrônicas
Palavras que caíram
em desuso:
- vossemecê;
- botica;
- comprir.
Grafias que caíram
em desuso:
- flôr;
- pharmácia;
- seqüencia.
Vocabulário e
expressões típicas de uma determinada faixa etária:
- Você é um chato de galocha!
- Ele é maior barbeiro.
- Vai catar coquinho.
03- Variações
diastráticas
As variações
diastráticas, também chamadas de variações sociais, são variações
que ocorrem de acordo com os hábitos e cultura de diferentes grupos sociais.
Este tipo de variação ocorre porque diferentes grupos sociais possuem
diferentes conhecimentos, modos de atuação e sistemas de comunicação.
Exemplos de variações
diastráticas
Gírias próprias de
um grupo com interesse comum, como os skatistas:
- Prefiro freestyle.
- O gringo tem um carrinho irado.
- O silk do skate tá insano.
Jargões próprios de
um grupo profissional,
como os policiais e militares:
- Ele deu sopa na crista.
- Vamos na rota dele.
- Não mexe com meu peixe.
04- Variações
diafásicas
As variações
diafásicas, também chamadas de variações situacionais, são
variações que ocorrem de acordo com o contexto ou situação em que decorre o
processo comunicativo. Há momentos em que é utilizado um registro formal e
outros em que é utilizado um registro informal.
Exemplos de variações
diafásicas
Linguagem informal, considerada menos prestigiada e
culta, usada quando há familiaridade entre os interlocutores da comunicação ou
em situações descontraídas.
- Fala, garoto! Beleza?
- Rola um cinema hoje?
- Cadê Pedro? Cê viu ele?
Linguagem formal, considerada mais prestigiada e
culta, usada quando não há familiaridade entre os interlocutores da comunicação
ou em situações que requerem uma maior seriedade.
- Bom dia! Tudo bom com você?
- Querem ir ao cinema hoje?
- Onde está Pedro? Você viu-o?
Variação
linguística e preconceito linguístico
O preconceito
linguístico surge porque nem todas as variações linguísticas usufruem do mesmo
prestígio. Algumas são consideradas superiores, mais corretas e cultas e outras
são consideradas menos cultas ou mesmo incorretas.
Preconceito
linguístico ocorre sempre que uma determinada variedade é referida com um tom
pejorativo e depreciativo, estando associada a situações de deboche ou até de
violência, o que contribui para a exclusão social de diversos indivíduos e
grupos.
É urgente
compreender e aceitar que todas as variedades linguísticas são fatores de
enriquecimento e cultura, não devendo ser encaradas como erros ou desvios
Atividade
1)
Leia o texto com atenção:
De
domingo
— Outrossim?
— O quê?
— O que o quê?
— O que você disse.
— Outrossim?
—É.
— O que que tem?
—Nada. Só achei engraçado.
— Não vejo a graça.
— Você vai concordar que não é uma palavra de todos os dias.
— Ah, não é.Aliás, eu só uso domingo.
— Se bem que parece uma palavra de segunda-feira.
— Não. Palavra de segunda-feira é óbice.
— “Ônus.
— “Ônus” também. “Desiderato”. “Resquício”.
— “Resquício” é de domingo.
— Não, não. Segunda. No máximo terça.
— Mas “outrossim”, francamente…
— Qual o problema?
— Retira o “outrossim”.
— Não retiro. É uma ótima palavra. Aliás, é uma palavra difícil de usar. Não é qualquer um que usa “outrossim”.
— O quê?
— O que o quê?
— O que você disse.
— Outrossim?
—É.
— O que que tem?
—Nada. Só achei engraçado.
— Não vejo a graça.
— Você vai concordar que não é uma palavra de todos os dias.
— Ah, não é.Aliás, eu só uso domingo.
— Se bem que parece uma palavra de segunda-feira.
— Não. Palavra de segunda-feira é óbice.
— “Ônus.
— “Ônus” também. “Desiderato”. “Resquício”.
— “Resquício” é de domingo.
— Não, não. Segunda. No máximo terça.
— Mas “outrossim”, francamente…
— Qual o problema?
— Retira o “outrossim”.
— Não retiro. É uma ótima palavra. Aliás, é uma palavra difícil de usar. Não é qualquer um que usa “outrossim”.
(VERÍSSIMO. L.F. Comédias da vida privada. Porto
Alegre: LP&M, 1996). -No
texto, há uma discussão
sobre o uso de algumas palavras da língua portuguesa. Esse
uso promove o (a)
(A)
marcação temporal, evidenciada pela presença de palavras indicativas dos dias
da semana.
(B)
tom humorístico, ocasionado pela ocorrência de palavras empregadas
em contextos formais.
(C)
caracterização da identidade linguística dos interlocutores, percebida pela recorrência de palavras
regionais.
(D)
distanciamento entre os interlocutores, provocado pelo emprego de palavras
com significados poucos conhecidos.
(E)
inadequação vocabular, demonstrada pela seleção de palavras desconhecidas
por parte de um dos interlocutores do diálogo.
2)Leia:
Texto
I
Entrevistadora — Eu
vou conversar aqui com a professora A.D. …O
português então não é uma língua difícil?
Professora — Olha se
você parte do princípio… que a língua portuguesa
não é só regras gramaticais… não se
você se apaixona pela língua que você… já
domina… que você já fala ao chegar na escola se
teu professor cativa você a ler obras da
literatura… obra da/ dos meios de comunicação… se você tem acesso
a revistas… é… a livros didáticos… a… livros de
literatura o mais formal o e/ o difícil é
porque a escola transforma como eu já disse
as aulas de língua portuguesa em análises gramaticais.
Texto
II
Professora — Não, se você
parte do princípio que língua portuguesa não é só
regras gramaticais. Ao chegar à escola, o aluno já domina e
fala a língua. Se o professor motivá-lo a
ler obras literárias e se tem acesso a revistas, a
livros didáticos, você se apaixona pela língua. O
que torna difícil é que a escola transforma as
aulas de língua portuguesa em análises gramaticais.
(MARCUSCHI,
L. A. Da fala para a escrita: atividades de
retextualização. São Paulo: Cortez, 2001)
-O texto I
é a transcrição de entrevista concedida por uma
professora de português a um programa de rádio. O texto II
é a adaptação dessas entrevista para a modalidade escrita. Em
comum, esses textos:
(A)
apresentam ocorrências de hesitações e reformulações.
(B)
são modelos de emprego de regras gramaticais.
(C)
são exemplos de uso não planejado da língua.
(D)
apresentam marcas da linguagem literária.
(E)
são amostras do português culto urbano.
3) Observe com atenção:
Mandinga
— Era a denominação que, no
período das grandes navegações, os portugueses davam à
costa ocidental da África. A palavra se tornou sinônimo de
feitiçaria porque os exploradores lusitanos consideram bruxos
os africanos que ali habitavam — é que eles davam indicações sobre
a existência de ouro na região. Em idioma nativo, manding designava
terra de feiticeiros. A palavra acabou virando sinônimo de feitiço,
sortilégio.
(COTRIM,
M. O pulo do gato 3. São Paulo: Geração
Editorial, 2009. Fragmento)
No texto, evidencia-se que a construção
do significado da palavra mandinga resulta de um (a)
(A)
contexto sócio-histórico.
(B)
diversidade técnica.
(C)
descoberta geográfica.
(D)
apropriação religiosa.
(E)
contraste cultural.
04)
Leia:
PINHÃO sai
ao mesmo tempo que BENONA entra.
BENONA:
Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer falar com
você.
EURICÃO:
Benona, minha irmã, eu sei que ele está
lá fora, mas não quero falar com ele.
BENONA:
Mas, Eurico, nós lhe devemos certas atenções.
EURICÃO: Passadas para
você, mas o prejuízo foi meu. Esperava que
Eudoro, com todo aquele dinheiro, se tornasse meu cunhado.
Era uma boca a menos e um patrimônio a mais. E o peste me
traiu. Agora, parece que ouviu dizer que eu tenho um
tesouro. E vem louco atrás dele, sedento, atacado da
verdadeira hidrofobia. Vive farejando ouro, como um
cachorro da molest’a, como um urubu, atrás do sangue
dos outros. Mas ele está enganado. Santo Antônio há de
proteger minha pobreza e minha devoção.
(SUASSUNA, A. O santo e a porca. Rio
de Janeiro: José Olimpyio, 2013)
-Nesse texto teatral, o emprego das
expressões “o peste” e “cachorro da molest’a” contribui para
(A)
marcar a classe social das personagens.
(B)
caracterizar usos linguísticos de uma região.
(C)
enfatizar a relação familiar entre as personagens.
(D)
sinalizar a influência do gênero nas escolhas vocabulares.
(E)
demonstrar o tom autoritário da fala de uma das personagens.
5) Diga se as frases são exemplos de registro coloquial, culto ou
popular.
a) Traga o prato pra mim comer. ______________________________
b) “Quando oiei a terra ardendo / Quá
foguera de são João.” ____________________
c) Qué apanha, sordado? Qué apanhá?______________________________________
d) Dê-me um cigarro / Diz a gramática
/Do professor e do aluno / E do mulato sabido. _______________
e) Me perco nesse mar de solidão.________________________________
d) Cem mil pessoas morreram. __________________________________
g) A gente não sabe mais o que fazer.
____________________________
4) Qual variedade linguística (culta ou coloquial) podemos ou devemos
usar nas seguintes situações?
a) Falando em público sobre o meio
ambiente __________________
b) Numa mensagem de celular para um
amigo. _________________
c) Numa mensagem de celular para seu
professor de português._______________
d) Numa carta de reclamação para a
presidente Dilma._______________________
e) Numa conversa entre amigos. _________________________________________
f) Num debate ou conferência sobre o
Bullying. _____________________________
g) Num bilhete para sua mãe. ___________________________________________
h) Numa redação solicitada pelo
professor de português.______________________
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